O que a Operação Ouro de Areia revela sobre o poder em Rondônia
A investigação expõe falhas estruturais no controle interno da Assembleia Legislativa de RO e reacende o debate sobre transparência e ética no serviço público
REDAÇÃO – A operação deflagrada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Rondônia na sexta-feira (17) expõe, mais uma vez, uma fissura antiga na estrutura política do estado. O caso é grave, mas o roteiro é familiar: cargos comissionados, salários desviados, empréstimos consignados em nomes de servidores e a suspeita de que a máquina pública virou meio de sustento de pequenos feudos dentro do poder. A diferença é que, desta vez, a poeira levantada tem nome: Ouro de Areia, metáfora precisa para um sistema que brilha por fora, mas desmorona ao toque.
Ainda que a Polícia Civil tenha sido categórica ao afirmar que, até o momento, não há indícios de envolvimento de deputados, o simples fato de a Assembleia Legislativa ser o epicentro das investigações acende um alerta institucional. A casa de leis, que deveria ser símbolo de controle e fiscalização, aparece associada a práticas que fragilizam sua própria legitimidade. É a contradição que se repete em diferentes escalas: o poder que deveria zelar pelo interesse público acaba, em alguns de seus tentáculos, se beneficiando dele.
O episódio também testa a capacidade de resposta da Alero, que reagiu com nota oficial prometendo sindicância e colaboração com as autoridades. O gesto é correto, mas insuficiente se não vier acompanhado de transparência real. A sociedade já não se contenta com comunicados formais, quer ver nomes, processos e consequências. Em tempos de descrédito político, a omissão é tão corrosiva quanto o crime.
Mais do que uma operação policial, Ouro de Areia é um espelho. Mostra o quanto as estruturas do poder em Rondônia ainda resistem à modernização e à ética pública como princípio cotidiano. O que está em jogo não é apenas o destino de alguns servidores, mas a credibilidade de um sistema político que insiste em naturalizar a velha lógica da rachadinha, do favor e da impunidade. O ouro, afinal, pode até reluzir. Mas quando se mistura à areia, revela o que sempre foi: pó.